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quinta-feira, dezembro 31, 2009

Intenções

In The Morning
Gina Signore

O dia acordou-me,
ainda cedo,
sem brigas, sem rancores.
Segredou-me as palavras
Esperança,
Sorriso,
Partilha,
Amor,
Amizade,
e pediu-me
que as misturasse,
e nessa amálgama
cada palavra conheceria
a sua própria intenção.
Antes de partir,
à procura do Sol,
exigiu-me
perseverança,
humildade e alegria.
Já sozinha
compreendi
que o tempo
passa por mim,
tão depressa,
que o amanhã não existe,
enquanto não sugar
o agora, o momento, o hoje.
É tarde sempre,
para ficar à espera
de algo que não aconteceu.
Assim, o tempo passa,
e a vida vai com ele.

maria eduarda

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Reabilitação

foto de J.
Hoje,
revejo-me no tempo,
chuvoso, cinzento, ventoso.
Comecei
a varrer as cinzas,
de feridas já cicatrizadas.
O meu choro é interior,
apesar de por vezes,
ainda enxugar os meus olhos,
na teimosia de lágrimas.
Espero que o vento,
apanágio de desarrumação,
faça o oposto, e
coloque dentro de mim
a harmonia,
seja em tons de cinza,
mas que esteja
em sintonia.

Assim, o Sol brilhará.
Quando?
Um dia destes,
abrirei a alma,
limpa, reabilitada,
fechada de inútil energia.
O Sol terá entrada permitida,
e eu serei tida em conta,
e poderei finalmente
renovar-me,
abastecer-me de risos,
de quereres reais,
estar viva,
e nisso acreditar,
e em nada mais.

maria eduarda

terça-feira, dezembro 29, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil,

A seiscentos quilómetros, comprimo os olhos com a pressão com que se embate quando se não pensa na queda e ela verticalmente acontece como sendo algo que se não pode desfazer como se faz às coisas com pontas.
A seiscentos quilómetros dou um último beijo nos teus sonhos sem que o notes, sem que os possas levar. Ficarei com algo deles numa das minhas mãos ocupada em dar a mão, se partires.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Mafra 2009
Foto:G.Ludovice

Continuações e tentativas de ainda ver.

domingo, dezembro 27, 2009

Ilusões

foto de maria eduarda
Há sempre Esperança
de que o Amanhã
seja diferente.
Luta-se por isso,
sonha-se com isso,
vive-se para isso.
Mas, quando o véu
do Amanhã se levanta,
a única coisa
que mudou,
foi a intensidade
da desilusão...

-Porque será
que o Amanhã
é sempre
mentiroso?

EM@

O Amanhã é mentiroso
porque desditoso,
de votos, de sentidos,
de promessas na hora.
Depois tudo esmorece,
porque o homem esquece,
e o que ele tece
são agonias totais,
misérias de vidas,
Invernos reais.

maria eduarda

sábado, dezembro 26, 2009

O Amor é o Amor

http://olhares.aeiou.pt/


O amor é o amor — e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos — somos um? somos dois?
espírito e calor!

O amor é o amor — e depois?

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'

Os votos

foto de maria eduarda
Terminou a festa,
os votos, as crenças
na mudança.
Hoje,
nada se alterou,
porque a mensagem
se calou.
E as crianças/adultos?
E a fome?
E a total miséria?

Terminou a festa,
o desejo de mudança,
de coisa séria,
ficou no meio
do anseio.
Terminou a festa!

maria eduarda

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Feliz Natal para todos vós
foto:G.Ludovice

Feliz Natal

Para todos vocês, que por aqui passam, um dia cheio de paz . Um abraço!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Desafio

Como as minhas comparsas do blogue andam desaparecidas, lá terei de ser eu a responder a este desafio lançado pela Andy,do blogue Lua

Seguem-se as minhas cinco manias:
1ª - Gosto muito de mexer na terra e tirar ervas daninhas;
2ª - Costumo falar sozinha;
3ª - Preocupo-me demasiado;
4ª - Ouço música todos os dias;
5ª -Como chocolates todos os dias.

http://beatrizmadureira.blogspot.com/
http://xinho-omeublogue.blogspot.com/
http://anabelapmatias.blogspot.com/
http://emapretoebrancoouacores.blogspot.com/
http://olhaiosliriosdacampos.blogspot.com/

domingo, dezembro 20, 2009

Vacilar


Love is Patient
Cheri Blum

O abraço, o aconchego
a melodia no ar,
momento volátil.
Memórias.

O semáforo
ao longe, muda de cor,
reagir ao verde,
ou indeciso,
aguardar
o intermitente?
maria eduarda

sábado, dezembro 19, 2009

As palavras

Post roubado do blogue

http://anabelapmatias.blogspot.com/

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Mr Pip


"... Senti que quem estivera a falar comigo fora aquele rapaz, Pip. Esse rapaz que eu não podia ver nem tocar, mas que conhecia ... Arranjara um novo amigo.
O facto surpreendente é o lugar onde o conheci: não foi em cima de uma árvore, nem com cara de mau à sua sombra, nem a chapinhar nos regatos da colina, mas num livro. Nunca ninguém nos dissera para procurarmos aí os amigos. Nem que nos podíamos pôr na pele de outra pessoa..."

(...)

"...Não podemos fazer de conta que estamos a ler um livro. Somos denunciados pelos nossos olhos. E também pela nossa respiração. Uma pessoa envolvida num livro esquece-se, simplesmente de respirar. A casa pode pegar fogo, que um leitor profundamente envolvido num livro não olhará para cima enquanto o papel de parede não estiver em chamas..."


in Mr Pip de Lloyd Jones
(Um livro belo como a esperança, duro como todas as guerras.)

O gesto

Symbol of Love
Paul Desny
Envolver alguém num abraço, sentir o corpo do outro, é dizer que o gesto permanece, mesmo depois de solto, porque estamos sempre ali, ao alcance de um olhar.
Não há palavras que registem o calor humano, a força que se transmite a alguém, sem pronunciar uma palavra.
E quando se desatam os braços, e ficamos sós, acreditamos que valeu a pena toda a ternura transmitida , mesmo sem sabermos muitas vezes, que a pessoa abraçada fomos nós.
maria eduarda

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Silêncio

Vejo o teu sorriso,
a alegria incontida,
o abraço forte,
o elogio presente.
Agora suponho-te,
a pessoa cordial
que subtilmente
se afasta,
marca na ausência,
na falta de sinais,
no vazio da palavra,
em alturas cruciais.
maria eduarda

Os Erros

olhares.com
A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

terça-feira, dezembro 15, 2009

Pela metade

maboqueiro
acácia

Ainda me falta
pisar o outro chão,
onde fiquei metade.

Ainda me falta
colar os cacos,
e ficar inteira.
Surgir assim genuína,
vaguear pela infância
e adolescência,
recordar...
Ser capaz de sorrir,
quando a despedida surgir.

Ainda me falta
preencher a alma africana
que tenho dentro de mim.

Ainda me falta
abraçar a terra e,
quando regressar,
não ter a ousadia
de olhar para trás.

Ainda me falta
deixar de ter falta.
Ainda me falta...

maria eduarda

segunda-feira, dezembro 14, 2009

A morte não é nada para nós

Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la.

Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais.

Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, que nos apraz.
Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingénuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.

Epicuro, in "A Conduta na Vida"

Insistência

Two Roosevelt
Sam Abel


Lanço-me arrojada,
contra as interrogações.
Inquiro-as,
trazem o silêncio.
Lentamente erguem-se,
encaram-me,
e eu regresso,
sem respostas.
As dúvidas persistem,
não se deixam desvendar,
persistentes, insistem
no calar.

maria eduarda

domingo, dezembro 13, 2009

Pasmar


olhares.com

Dei-me uma oportunidade,
e esvoacei perto das nuvens,
em velocidade quase parada,
vendo o pulsar cá em baixo.
Mera espectadora,
assim me dispus.
As cores da terra
esvaziaram-me os sentidos,
estes, fixaram-se nas paisagens,
só assumi a visão.
Com ela me encho de tonalidade,
e regozijo-me com a beleza,
que supus não existir,
tão sumptuosa.
Assim, retirei as asas
do pássaro que não sou,
e pisei o chão,
onde o esplendor é menor,
onde os sentidos se camuflam,
onde as pessoas não se espantam!

maria eduarda

Oração das Mulheres Resolvidas


Donna con Ventaglio
Gustav Klimt


Que o mar vire cerveja e os homens aperitivo,
que a fonte nunca seque,
e que a nossa sogra nunca se chame Esperança,
porque Esperança é a última que morre...
Que os nossos homens nunca morram viúvos,
e que os nossos filhos tenham pais ricos e mães gostosas!
Que Deus abençoe os homens bonitos,
e os feios se tiver tempo...
Deus...
Eu vos peço sabedoria para entender um homem,
amor para perdoá-lo e paciência pelos seus actos,
porque Deus,
se eu pedir força,
eu bato-lhe até matá-lo.
Um brinde...
Aos que temos,
aos que tivemos e aos que teremos.
Um brinde também aos namorados que nos conquistaram,
aos trouxas que nos perderam,
e aos sortudos que ainda vão conhecer-nos!
Que sempre sobre,
que nunca nos falte,
e que a gente dê conta de todos!
Amén.

P.S.: Os homens são como um bom vinho: todos começam como uvas e é dever da mulher pisá-los e
mantê-los no escuro até que amadureçam e se tornem uma boa companhia para o jantar.

Sim...

Roçamos de casacos postos a mesma porta, estão todos sob o meu acanhado tecto e isso, chama-se felicidade!! O céu não é perfeito como cobertura, pois que exige demasiada distância entre os pequenos seres cá em baixo, para se anunciar grande.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Saudades de tudo!

Entrei no barbeiro no modo do costume, com o prazer de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas. A minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho calma só onde já tenho estado.

Quando me sentei na cadeira, perguntei, por um acaso que lembra, ao rapaz barbeiro que me ia colocando no pescoço um linho frio e limpo, como ia o colega da cadeira da direita, mais velho e com espírito, que estava doente. Perguntei-lhe sem que me pesasse a necessidade de perguntar: ocorreu-me a oportunidade pelo local e a lembrança. "Morreu ontem", respondeu sem tom a voz que estava por detrás da toalha e de mim, e cujos dedos se erguiam da última inserção na nuca, entre mim e o colarinho. Toda a minha boa disposição irracional morreu de repente, como o barbeiro eternamente ausente da cadeira ao lado. Fez frio em tudo quanto penso. Não disse nada.

Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais - se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida.

O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu - a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim - sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um "o que será dele?". E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.

Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego, ed. Richard Zenith

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Desafio

A Anabela do blogue ANABELA MAGALHÃES propôs um desafio, que consiste em revelar um pouco de nós em época natalícia.Como sei que as minhas comparsas andam muito ocupadas, tentarei responder, mas não vou abordar em todas as respostas a época que atravessamos.
Apelo a mais cinco blogues que aceitem o desafio:

http://xinho-omeublogue.blogspot.com/

http://centroparoquialgondar.blogspot.com/

http://buedelopes.blogspot.com/

http://genaumeinfreund.blogspot.com/

As minhas respostas:

1. Eu já ... passei dias de Natal fantásticos, em África, com a família toda reunida;

2.Eu nunca ... perco a esperança;

3. Eu sei ... que muitas pessoas só se lembram da pobreza, na quadra natalícia;

4.Eu quero ... fazer parte de um país mais são, a todos os níveis;

5. Eu sonho ... ser capaz de ajudar alguém, às vezes só com palavras;

6. Eu prometo ... contribuir para um mundo onde impere a paz.

Da Música


Frustração

Mirage
Salvador Dalí


Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.

Miguel Torga, in "Diário XII"

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Emoção

olhares.com
Emocionar-me é sentir-me sufocada por sentimento tão forte, que por ser imenso, sai do meu corpo em forma de lágrimas.O facto das gotas de água deixarem de ser visíveis, não é sinónimo de abandono desse sentimento, mas sim porque recolheram, e se transformaram em dor silenciosa.


maria eduarda

Agonia

Amanheceu.
O corpo cansado
respondeu ao apelo,
e ergueu-se,
mas a cabeça exausta
determinou
não aceitar a manhã,
e voltar
ao início da noite,
quando o ser se evade
por breves horas.

maria eduarda

terça-feira, dezembro 08, 2009

Quando vem a noite

Só quando vem a noite, de algum modo sinto, não uma alegria, mas um repouso que, por outros repousos serem contentes, se sente contente por analogia dos sentidos. Então o sono passa, a confusão do lusco-fusco mental, que esse sono dera, esbate-se, esclarece-se quase se ilumina. Vem, um momento, a esperança de outras coisas. Mas essa esperança é breve. O que sobrevém é um tédio, sem sono nem esperança, o mau despertar de quem não chegou a dormir. E da janela do meu quarto fito, pobre alma cansada de corpo, muitas estrelas; muitas estrelas, nada, o nada, mas muitas estrelas...


9-6-1934
Fernando Pessoa in "Obra Poética e em Prosa", volume II

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Pensamentos

Olhares.com

Vadios,
os meus pensamentos,
saem de mim, assim...
Sem dar conta,
já não estou aqui.
E voltamos.
Abro-lhes a minha alma
para lá entrarem,
e serenarem.
Permanecem nesse canto
até novo desafio,
que de mim parte.
Quando não dou permissão,
insistem e lá vão!
Com eles vou sempre,
afinal.
Partimos e regressamos,
nesta viagem virtual,
neste ir e vir vital!

maria eduarda

quarta-feira, dezembro 02, 2009

O meu avesso


Num qualquer tecido,
vejo-lhe o avesso,
tão diferente do original!

Não há a glória
de descobrir o desenho,
vendo-o do avesso.

Assim, na descoberta
insiro-me no meu avesso,
semelhante ao original,
ou quase igual,
eu, tal e qual.

maria eduarda

Por imágenes fragmentarias

El es rápido, piensa con imágenes claras; yo soy lento, pienso con imágenes fragmentarias.
El se torna obtuso, confía en sus imágenes claras;yo me torno agudo, desconfío de mis imágenes fragmentarias.
Confiando en sus imágenes, él acepta la importancia de ellas; desconfiando de mis imágenes, yo cuestiono su importancia.Aceptando su importancia, él acepta el hecho;cuestionando su importancia, yo cuestiono el hecho.
Cuando el hecho se le escapa, él cuestiona sus sentidos;cuando el hecho se me escapa, yo apruebo mis sentidos.
El persiste rápido y obtuso con sus imágenes claras;yo persisto lento y agudo con mis imágenes fragmentarias.
El en una nueva confusión de su entendimiento;yo en un nuevo entendimiento de mi confusión.
Versión de Alberto Girri

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil,

Covent Garden 2009
foto:G.Ludovice


Há sítios de onde temos de ser arrancados, para deles sermos distância.

Disso se encarregam as pequenas circunstâncias, cujo efeito é comparável à leve mudança de agulha no carril do eléctrico que lá vem ou aos estranhos tratados históricos que nos traçam direcções sob os pés, como se o chão fosse subitamente móvel e nunca escutasse as nossas vontades mais certas. Nesse tabuleiro, somos jogados em jacto de dentro de nós para as ruas que sendo veias dos lugares, nos mancham de si ou com aparente mais sorte para dentro de casas, que se parecem a estômagos em constante digestão, enquanto escorre às carradas como chuva o tempo e morremos, como se isso fosse um regresso e não outra vez uma nova coisa apontada que nos espera e mais nos afasta.

Há sítios que como pessoas tão só são princípios.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Aconchego

Waiting at the Door
Florene
Chegas tarde,
Chegas cedo,
Que importa o tempo,
Desde que chegues?
Vem,
Rompe o marasmo.
Reinventa o dia,
Atenta em mim,
Relança-te, e
nos meus braços,
descansa por mim.

maria eduarda