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sábado, maio 30, 2009

Uma carta do X.P.T.O.

Ponte de Soarez, 10 de Abril de 1998

Mariana:

Não sei que coragem me deu para escrever esta carta para a pessoinha mais incrível deste mundo. Eu desconfio que tu conheces a minha letra, mas resolvi disfarçá-la e acho que ficará bem disfarçada.

Mariana, eu já te vi a dormir, foi uma tarde de domingo e parecia que estavas com febre. Eu não vou dizer como foi, se não tu acabas por desconfiar. Mas tu és mais linda a dormir que acordada. Eu acho que os anjos são assim, nunca vi um anjo, isto é, vi um anjo sim, que és tu. Se a minha mãe perguntasse: "O que queres para o Natal: um computador ou um beijo da Mariana?" sabes o que eu respondia? Eu respondia: "Um beijo da Mariana." Mas acho que nunca vou merecer esse beijo, que uma estrela não olha para um sapo. Queria poder dizer-te que eu faria o que tu quisesses.
Se quiseres eu faço-te os trabalhos de Matemática até ao fim da vida. Tudo, Marianinha, tudo, tudo. Eu sei, Mariana, eu sou um bobo, o maior bobo da Terra, não sei fazer nada, nunca soube fazer nadinha, mas eu fazia um vestido azul bordado de estrelas para tu usares na festa de aniversário do Minhoca, aquele chato. Bem, eu não sei se vais à festa de aniversário dele. Vais? Eu não vou, que acho que ele é um gozão e um baboso, não achas?
Mariana, tu és linda, linda, linda, não me canso de dizer que tu és linda, linda, linda. Vou-te confessar um segredo: adoro ver-te a soprar os cabelos da testa. Os cabelos voam e é bonito. Já fico a torcer para os cabelos caírem em cima da tua testa, só para te ver soprá-los e eles voarem, aquela nuvem loura, que quando faz sol fica mais loura. Não é por tu seres loura que eu gosto de ti. É verdade, eu juro. Podias ser negra, morena, amarela, roxa ou encardida, que não tinha a menor importância. O amor não vê pele, não vê tamanho, não vê idade. Podias ser uma menininha de sete anos ou uma moça de quinze que era a mesma coisa, não fazia a mínima diferença. Vê lá se adivinhas a minha idade, experimenta. Se disseres que vou fazer onze anos, acertaste em cheio. Mas eu não vou fazer uma festa de aniversário porque acho que festa de aniversário de homens são uma bobagem. Só mesmo um panaça como o Minhoca é que fazia festa de anos.

Eu quero apenas dizer-te que tu tens mais valor para mim que tudo o resto. Mariana: tu és um anjo, tu és uma flor, tu és uma estrela. Eu não vou assinar o meu nome. Eu duvido que tu descubras, duvido, duvido mesmo.

Um beijão.

X.P.T.O

Haroldo Maranhão, A Porta Mágica (adaptado)