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sábado, fevereiro 27, 2010

Conto

O revolucionário

A metralhadora encalhou naquilo q é um buraco de dente num pensamento, que não pode ser cheio por na escola se não ter aprendido a vê-lo como problema de alguém ou até ser possível curá-lo com aprendidas palavras que fazem estrutura de parede ou muro para aguentar um tecto, mas talvez o caso dele tivesse sido daquela distracção de janela que na altura era pensado disparo noutra coisa q mexia do lado de fora de si ou apenas fome a tornar o que vai lá dentro tão imenso, como um céu seco.
Diante de si, olhos numerosos de uma família imersos à força em culpa de antepassados moram pendurados, como moscas coladas em retratos pelos longos corredores e na vasta sala e até na lustrosa entrada da casa que deveria estar vazia deles, de modo a permitir comodidade aos novos olhos que nela entram, para que enfim se possam sentir ainda em mundo próprio, cobertos de cheiros que se entornem naquelas velhas paredes como se fossem em vez de algo no ar, tinta de cores fortes.
Nem sempre o tempo que resta nos deixa levar as memórias connosco, foi o sucedido àqueles que tinham tido ali como que já raízes e mais teriam se a liberdade não tivesse chegado com ele, que não tinha família antiga colocada em papel de parede, mas num sítio tal que sempre que tinha desgastada fuga, não ficavam os seus mortos para trás como coisas mas eram as próprias asas na sua coragem ou um simples assobio de pés no seu rasto, tal a atenção do espírito deles sobre si.
Que faria com todo aquele papel da história de outros?
Entre as mãos pesadas mesmo que sem nada, só acariciava a coronha órfã já, de destino possível.
in: Contos e Exercícios

"Não é segurando um pássaro, que se ajuda um pássaro a voar. O pássaro voa simplesmente, porque o deixam ser pássaro."

Mia Couto "Jesusalém"

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Capital

imagem google
Casas,carros, casas, casos.
Capital
encarcerada.
Colos, calos, cuspo, caspa.
Cautos, castas. Calvos, cabras.
Casos, casos... Carros, casas...
Capital
acumulado.

E capuzes. E capotas.
E que pêsames! Que passos!
Em que pensas? Como passas?
Capitães. E capatazes.
E cartazes. Que patadas!
E que chaves! Cofres, caixas...
Capital
acautelado.

Cascos, coxas, queixos, cornos.
Os capazes. Os capados.
Corpos. Corvos. Copos, copos.
Capital,
oh! capital,
capital
decapitada!

David Mourão- Ferreira, in Antologia da Poesia Portuguesa, 1º vol.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

O MENINO DE COR


Não percebo porque dizem que sou um Menino de cor


Quando eu nasci, já era negro
Quando tu nasceste, eras cor-de-rosa
Quando eu me zango, continuo negro
Quando tu te zangas, ficas vermelh0
Quando eu tenho frio, continuo negro
Quando tu tens frio, ficas azul
Quando eu estou com medo, continuo negro
Quando tu tens medo, ficas verde
Quando me dói a barriga, continuo negro
Quando tu tens dor de barriga, ficas verde
Quando eu vou para a praia, continuo negro
Quando tu vais para a praia, ficas negro
E tu gostas disso!

Então...Qual de nós os dois é o menino de cor?


Adaptado de um conto tradicional africano

Isto anda tudo ligado

Ainda não vi
ainda não
a impressionante mariposa
a pretendente pesarosa
a tarde morna e vagarosa
as duas faces da provável solidão

Ainda não vi a bomba H
ainda não vi a de neutrões
ainda não vi os meus travões
a ver se paro antes de chegar lá

Ainda não vi
ainda não
o riso que tudo desvenda
o reverendo e a reverenda
o leão ferido e a sua senda
a face clara da possível confusão

Ainda não vi a hora H
ainda não vi a mão em V
ainda não vi o dia D
em que a guerra final começará

Quando eu nascer para a semana ó mana
quando eu nascer para a semana
hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo ligado

Ainda não vi
ainda não
as artimanhas da saudade
a caravana na cidade
a incorruptibilidade
as duas faces da provável solidão

Ainda não vi a bomba H
ainda não vi a de neutrões
ainda não vi os meus travões
a ver se paro antes de chegar lá

Ainda não vi
ainda não
o abraço à porta da taberna
a ideológica lanterna
a mão que avança para a perna
a face clara da possível

Ainda não vi a hora H
ainda não vi a mão em V
ainda não vi o dia D
em que a guerra final começará

Quando eu nascer para a semana ó mana
quando eu nascer para a semana
hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo

Ainda não vi
ainda não
a grossa lágrima ao espelho
o grande chefe e o seu grupelho
o azul-turquesa e o vermelho
as duas faces da provável solidão

Ainda não vi a bomba H
ainda não vi a de neutrões
ainda não vi os meus travões
a ver se paro antes de chegar lá

Sérgio Godinho In: "Na vida real"

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Remenber why you're here

Remember why you're here.
Remember the dream.

This is all a mean to reach an end.
Need to be patient,
Need to be confident.
Resist!
Persist!
Insist!

Remember why you're here!
Remember the dream...

Life's tough.
Tougher because you're a dreamer.
But don't surrender!
Remember...
God never puts more weight on you
Than that of what you can carry.
And if anyone can do this, it's You.
Face your fears,
Dry your tears!
You Are strong enough!

Remember why you're here...
Remember the dream!

Mónica Ribeiro Kiki

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Impulso

fotografia de maria eduarda

Coladas
a estas palavras,
estão outras,
que não ouso escrever,
ou porque
as quero manter
na sombra,
ou porque
desfigurariam
a luminosidade
do meu deleitar.
Assim as quero,
controladas,
na memória
mais sombria
dos meus dias.

maria eduarda

domingo, fevereiro 21, 2010

Fragilidades

fotografia de maria eduarda

Braços nus,

troncos frágeis

persistem

na intempérie.

Tornar-se-ão

robustos

na folhagem

que os vestirá

no tempo certo.

maria eduarda

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Meditação é viver alegremente


Foto de maria eduarda
A vida é sem propósito. Não fique chocado. Toda ideia de propósito é errada — origina-se da ganância.
A vida é pura alegria, contentamento, diversão, riso — sem qualquer propósito absolutamente. A vida é a sua própria meta, não há nenhuma outra meta.
No momento em que você compreende isso você compreendeu o que é meditação. É viver a sua vida prazerosamente, divertidamente, totalmente, e sem nenhum propósito no final, sem nenhum propósito em vista, nenhum propósito absolutamente.
Exatamente como as criancinhas brincando na praia, pegando conchas e pedras coloridas — com que propósito? Não há absolutamente nenhum propósito.

Tirado daqui

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Em mim

foto de maria eduarda
Albergo temores,
ânsias, atropelos.
Dou-lhes voz,
para meu alívio.
Em amena atitude
recolho fragâncias
de outros anseios,
diluo-os nos dias,
nas atitudes,
no pensar,
neste meu viver,
em constante procura,
em pausado saber.

maria eduarda

domingo, fevereiro 14, 2010

O silêncio

Silence

Fabio Calvetti

O silêncio é um bem raro e precioso. Nos dias que correm, o estilo de vida e o ritmo vertiginoso em que vivemos tornam difícil encontrá-lo, quer estejamos a falar de silêncio interior ou exterior.Infinito na sua potencialidade e riqueza, o silêncio reveste-se de múltiplas dimensões.

Para um árabe, por exemplo, estar em silêncio dentro de um grupo de amigos nada tem de chocante, uma vez que isso faz parte da sociabilidade e do seu código de comunicação, onde o silêncio é sentido como um prazer sereno.

Os ocidentais, por seu lado, incomodam-se com os longos silêncios dos japoneses, desorientam-se, irritam-se ou questionam a atitude. A este propósito, Marc Smedt, autor do livro O elogio do silêncio, afirma que "se soubéssemos viver na calma deste silêncio, os nossos assuntos avançariam mais rapidamente, uma vez que os japoneses ponderam, avaliam e tentam perceber intuitivamente o que se encontra por detrás das palavras."


Inês Menezes, revista XIS, in Público, 16-10-2004 (adaptado)

sábado, fevereiro 13, 2010

Parabéns, Dinamene

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Palavra "saudade" é de difícil tradução

Imagem retirada daqui

A palavra portuguesa "saudade" foi considerada o sétimo vocábulo mais difícil de traduzir, segundo uma votação realizada por mil linguístas, levada a cabo pela agência londrina de tradução e interpretação Today Translations.
A mais votada foi "ilunga", de uma língua falada numa região da República Democrática do Congo e que significa "uma pessoa que está disposta a perdoar qualquer abuso pela primeira vez, a tolerar uma segunda vez, mas nunca uma terceira vez": Em segundo lugar ficou "shlimazl", que é a palavra em iídiche(língua falada por algumas comunidades de judeus oriundos da Europa central e oriental) para uma "pessoa cronicamente sem sorte". A palavra japonesa "Naa", da área Kansai, foi a terceira mais difícil de traduzir e significa"enfatizar declarações" ou "concordar com alguém". Apesar de as definições parecerem bastante precisas, o problema é tentar transmitir as referências locais associadas a tais palavras", afirma a presidente da Today Translations, Jurga Zilinkiene, que conduziu a sondagem.

in Público, 25-06-2004 (adaptado)

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Ilusão

Imagem retirada daqui

À noite,

parto na bruma,

levo comigo

a sinfonia do silêncio,

e sobrevoo

a tua imaginação.

Regresso ilesa

e desço até mim.

Ao amanhecer

acordo nas tuas pálpebras,

porque me vês,

não estando eu aí.

maria eduarda


"Assim como a água parada reflecte as coisas, o espírito tranquilo do sábio é o espelho do Universo"

Zhuang Zi

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

A chuva parece inclinar-se, precisamente porque nada venera. No entanto, quando assola brilhantemente as vidraças que parece que é para isso que estão à minha frente, é numa direcção, que porque eu a quisera seguir me absorve todo o corpo e também eu estranhamente, pareço nos meus sonhos inclinar-me.

A palavra

Londres, foto do V.

Por vezes

falta-me o impulso,

a força que dispara

o meu sentir,

em palavras.

maria eduarda

sábado, fevereiro 06, 2010

Frase de todos os dias

"O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, É O SILÊNCIO DOS BONS."

Martin Luther King

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Era uma vez...

http://olhares.aeiou.pt/


É assim que se inicia cada história. Não lhe encaro o final, e dou-lhe tempo e espaço, nos meus dias, quando acordo e me vejo, me contemplo.

Não a desiludo, porquanto a combato de frente, e prossigo a minha história, que até pode começar por:"Era uma vez..."
maria eduarda

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Ser feliz é um dever

Happy Energy
Barbara Aliaga

É difícil ser feliz; requer espírito, energia, atenção, renúncia e uma espécie de cortesia que é bem próxima do amor. Às vezes é uma graça ser feliz. Mas pode ser, sem a graça, um dever. Um homem digno desse nome agarra-se à felicidade, como se amarra ao mastro em mau tempo, para se conservar a si mesmo e aos que ama. Ser feliz é um dever. É uma generosidade.

Louis Pauwels, in "Carta Aberta às Pessoas Felizes"

Parabéns a vocês!

"O amor é a força mais abstracta, e também a mais potente, que há no mundo.”

Mahatma Gandi

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Prémio "Amiga Poderosa"

A Anabela Magalhães do blogue ANABELA MAGALHÃES deu-me este prémio, que agradeço.

Devo passar o prémio a cinco amigas igualmente poderosas. Passo o prémio à Solange, Dinamene e Gabi, também autoras deste blogue, e a todas as mulheres que têm passado por aqui.
Devo completar a frase, Sou Poderosa porque... já caí algumas vezes, consegui sempre levantar-me e ainda sorrir.
Obrigada a todos vocês que passam por aqui e me dão alento para prosseguir.

Hino à Vida

http://olhares.aeiou.pt/

Tempo pleno,
poema a que nada falta.
Hoje inteiro o dia completude.
Embarque solidário.
Voe até a ponto igual
a onde estou,
em retorno a mim.
Donde vim e vou sou,
esclarecendo olhares,
derramados,
cada lance;
indizível sabor,
clara verdade.
Enquanto risca o vidro
num voo curvo
a ave.

Ângelo Ochôa